POLÍTICAS DE SAÚDE FRENTE A PIOR DAS DOENÇAS: A FOME

Como todas as especialidades sociais, a Medicina, deve ser compreendida no contexto da totalidade social do homem, evitando a restrição da ação individual imposta pela relação médico paciente. Essa atitude política impõe dificuldades crescentes porque alarga o espectro de representação e obriga a participação do médico, como agente oficial da medicina, nos destinos da sociedade.
Há muito tempo existe o tácito reconhecimento de diferentes práticas médicas entre ricos e pobres. Platão (República, 406, d) observou as diferentes consultas: enquan¬to o abastado dispunha de tempo e dinheiro para pagar regiamente o médico, o pobre sem temo e dinheiro, não recebia atenção semelhante.
A situação mudou pouco na atualidade. As análises das com¬plicações ocorridas nos serviços de emergência mostram que certas pessoas recebem tratamento diferenciado. Na hora de decidir, o médico acaba levando em consideração outros fatores além dos supostamente técnicos. Mesmo nos ambulatórios, onde habitualmente não existe risco de vida, quando o paciente se mostra mais esclarecido o profissional de saúde presta mais atenção no curso da consulta.
Apesar de essas situações serem conhecidas, não existe no momento qualquer perspectiva para modificá las, especialmente nos países onde predomina fome quantitativa ou quantitativa na maior parcela da população.
É certo que a crueldade da fome alcança a maior parte do planeta. Embora a produção de alimentos tenha aumentado considera¬velmente nos últimos trinta anos, cerca de 2 bilhões de pessoas, no mundo, estão diariamente privadas do alimento mínimo para viver com menos doença. Como as crianças não comem o mínimo necessário, o sofrimento da fome se arrasta durante os primeiros anos de vida, gerando a desnutrição e conjunto de doenças incapacitantes ou que aumentam a mortalidade. Também é importante assinalar que as crianças nascidas de mães também subnutridas, jamais poderão desenvolver adequadamente as funções motoras e de aprendizado. É uma verdadeira fábrica de deficientes físicos e mentais.
No Brasil, o problema é de magnitude semelhante. Apesar de ostentar a sétima economia mundial, algumas parcelas da população, as mais pobres, têm a mesma expectativa de vida que os da Etiópia, Birmânia e El Salvador. É exatamente por essa razão que fica difícil falar de medi¬cina no Brasil sem lembrar que hoje, dois mil e duzentos anos depois, Platão registrou a existência de Medicinas desiguais.
A maior parte das enfermarias dos hospitais públicos brasileiros (os quem têm maior poder aquisitivo, raramente ocupam esses leitos) está preenchida por pessoas e crianças portadoras de doenças causadas direta ou indiretamente pela subnutrição crônica.
Os estudantes de medicina, todos os dias, vêm os pequenos doentes que conseguem sair vivos da diarreia da ameba para retornarem, poucos meses depois, com a pneumonia fatal.É realidade absolutamente inaceitável, resultante de um processo econômico e social injusto e desumano, na medida em que marginaliza, nos limites da miséria absoluta, parte significativa da população.
O combate à fome, evitando as doenças infecciosas responsáveis pela elevada mortalidade infantil, não passa somente pelos auxílios financeiros na forma de “bolsas”, devem incluir necessariamente ao direito à educação de boa qualidade em horário integral para ajuste da alimentação e atenção primaria à saúde.

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