MEDICINA GREGA DO SÉCULO 4 A.C. INFLUENCIANDO O SÉCULO 19

O marco organizador da nova e fundamental etapa da Medicina na construção dos procedimentos éticos atados à busca da materialidade da doença ocorreu na escola de Cós, sob a liderança de Hipócrates. Apesar de saber-se, pelos indicativos etimólogos e lingüísticos, que das 72 obras contidas no ?Corpo Hipocrático?, conjunto de textos produzidos na ilha de Cós, somente 12 foram reconhecidamente escritos por Hipócrates. Esse conjunto filosófico-médico iniciou o processo da separação da Medicina-oficial das idéias e crenças religiosas.
Nesse contexto, um dos livros mais importantes, ?Da Medicina Antiga?, escrito por Políbio, genro de Hipócrates, está elaborada a teoria dos Quatro Humores, a primeira estrutura laica edificada com o objetivo de explicar a saúde e as doenças fora das idéias e crenças religiosas. O processo teórico explicita o corpo humano constituído de quatro humores: sanguíneo, linfático, bilioso amarelo e bilioso preto. A saúde seria consequente ao equilíbrio dos humores e a doença apareceria após o desequilíbrio, isso é, a predominância de um sobre os outros.
É importante ressaltar que Políbio estratificou a teoria dos Quatro Humores atada à teoria dos Quatro Elementos de Empédocles. Esse genial médico e filósofo pré-socrático, tentando entender o mundo, fora das idéias e crenças religiosas, explicou mundo visível por meio da combinação de quatro elementos fundamentais: água, terra, fogo e ar. Desse modo, para cada elemento de Empédocles, existiria um humor.
Como imediata resposta à genialidade de Políbio, duas transformações mudariam a Medicina no Ocidente:
– As terapêuticas ficaram mais livres da presença dos deuses e deusas curadoras e firmaram propósito para retirar do corpo o excesso dos humores desequilibrados, por meio das sangrias, suadouros, diarréias, vômitos e diurese.
– O primeiro código de ética médica ? Juramento de Hipócrates ? com admirável avanço indicou, simultaneamente, a necessidade de os bons resultados estarem unidos ao respeito à dignidade do doente.
Por essa razão, usando a linguagem do filósofo francês Gaston Bachelar, é possível considerar esse acontecimento ? a teoria dos Quatro Humores ? como o primeiro corte epistemológico da Medicina-oficial.
A historicidade do Juramento de Hipócrates atada à teoria dos Quatro humores assinala pontos marcantes: bons resultados, respeito à intimidade e autonomia do doente, competência, sigilo e responsabilidade profissional.
Os quatro elementos de Empédocles (água, terra, ar e fogo) e os Quatro Humores de Políbio (sangue, fleuma, bílis preta e bílis amarela), da Escola de Cós, ambas do século 4 a.C., foram retomados por Galeno, um dos mais famosos médicos romanos, do século 1, para edificar a teoria dos Temperamentos, inserindo componentes sociais nas doenças.
Assim, se alguém estivesse com ?um humor desequilibrado? e possuísse determinado ?temperamento dominante?, seria mais suscetível a certa doença. Hoje, parece tudo sem sentido, mas é importante ressaltar que além de as teorias dos Quatro Humores e a dos Quatro Temperamentos se situavam fora dos poderes divinos e continuaram citadas até a primeira metade do século 19, quando o viajante alemão Von Martius, esteve no Amazonas, em 1844, entendeu os índios: ?de temperamentos fleumáticos, com pouco sangue?, com o objetivo de explicar a equivocada leitura do comportamento dos indígenas quando comparado ao dos europeus.

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