MICROSCÓPIO E MICRÓBIOS

O conjunto das novas observações consequentes da utilização do microscópio – pensamento micrológico – se tornou grande em tempo tão curto que se formaram inúmeras associações científicas, onde eram comunicadas e discutidas as descobertas da microestrutura do corpo humano. Entre as aplicações imediatas das novas observações se destacou a identificação do ácaro como agente causador da sarna. Esta doença da pele já era conhecida desde os tempos bíblicos e incluída entre as oito doenças aceitas como contagiosas. A identificação do ácaro se tornou a primeira prova de os micro-organismos serem as causas das doenças.
Como consequência da nova abordagem, a relação direta entre a identificação do micro-organismo e a certeza do diagnóstico influenciou o modo como os médicos dos séculos 18 se relacionavam com os doentes. A frieza com que a concepção mecanicista de vida impunha determinava a simplificação das funções vitais a simples acontecimentos mecânicos ligados aos micróbios. Os médicos passaram a se contentar com a descrição dos sintomas a distância do doente: a partir dos dados obtidos de maneira indireta, estabeleciam o diagnóstico e o tratamento.
As críticas mais contundentes dessa Medicina mecanicista se mantiveram fortalecidas com as publicações de Thomas Sydenham (1624-1689). Esse genial autor defendia que o ponto fundamental da Medicina era a presença do médico na cabeceira do doente, utilizando todos os recursos que pudessem auxiliar na cura.
O lado mais espetacular do pensamento micrológico aderiu aos esforços de quatro médicos extraordinários que se imortalizaram por terem mudado a Medicina e o mundo evitando a morte e o sofrimento de milhões de pessoas:
– Louis Pasteur (1822-1895): identificação do estafilococo no furúnculo e na osteomielite (infecção no osso); identificação do estreptococo na febre puerperal (infecção pós-parto que matou milhões de mulheres); introduziu o termo vacinação; realizou a primeira vacinação anti-rábica, em 6 de julho de 1885, numa criança de 9 anos de idade que tinha sido mordida por cão raivoso; introduziu a assepsia e anti-sepsia com famosa frase: ?Se eu tivesse a honra de ser cirurgião, sempre lavaria as mãos com muito rigor e as exporia, rapidamente, ao calor, e só usaria instrumentos limpos previamente submetidos à temperatura entre 130 e 150 graus e água tratada até 110 graus?.
– Robert Koch (1843-1910): definitiva comprovação de que cada doença infecciosa é causada por bactéria específica; isolamento, em 1882, do bacilo da tuberculose; identificação, em 1884, do vibrião da cólera.
– Alexandre Yersin (1863-1943): durante a epidemia, em Hong Kong, em 1894, esse médico suíço identificou o bacilo da peste e o papel do rato na transmissão da doença, contudo não associou a pulga como o elemento contagiante.
– Gehard Hansen (1841-1912): identificou o bacilo da lepra (Mycobacterium leprae), em 1873, a partir de preparações frescas e não coradas.

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