CURANDEIROS E ADIVINHOS: AGENTES DE COESÃO SOCIAL

 

Prof.Dr.HC João Bosco Botelho

     “As fronteiras entre adivinhação e medicina são tão vagas que não nos surpreenderá encontrar num tratado médico um prognóstico aventureiro e,num tratado de adivinhação, um diagnóstico médico pertinente.” Jannie Carlier

 

                 É notório, há milhares de anos, o reconhecimento coletivo da existência de homens e mulheres reconhecidas com capacidades especiais para curar e adivinhar a margem de todas as leis da Física. Infelizmente, a Ciência continua sem compreender o significado biológico dessa cura. Permanece sem resposta a indagação: o curso da vida pode ser modificado por esse dom?

                 Enquanto não há outra resposta, continua prevalecendo o sentido bíblico presente em Tg 1, 17: “Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vem do alto e desce do Pai das Luzes”.

                 Os primeiros registros estão presentes nos primórdios da linguagem escrita, especialmente, nos livros sagrados, onde é possível identificar a intrincada relação de dependência entre essas pessoas especiais com os diversos segmentos sociais das comunidades onde atuavam. Esse nó está relacionado ao pro­cesso da ligação humana ao transcendente por meio da experiência religiosa com o sagrado. A constatação ficou clara a partir da melhor compreensão da escrita cuneiforme, dos povos babilônicos, no segundo milênio a. C., esclarecendo que as palavras sortilégio, malefício, pecado, doença e sofrimento embutiam significado semelhante.

                 É também possível evidenciar que os curadores e adivinhos, em muitos contextos históricos, exerceram função equivalente na organiza­ção social. É por esta razão que os tratados divinatórios e os prognósticos médicos estão ligados desde os primeiros tempos. A posse do dom de curar doenças e malefícios sempre acrescentou mais poder a quem o possuía, colocando‑o em destaque na comunidade.

                        Contudo, a manutenção desse poder não era uniforme nem permanente. A possibilidade de substituição fora vivenciada, de modo contundente, pelos curadores e adivinhos quando, sob novo po­der político, sofriam as imposições do conquistador. Alguns reis citados no Antigo Testamento, como Baal e Astarte (Jz 2, 13), cultuados na Mesopotâmia, foram identificados pelo judaísmo como curadores e adivinhos ligados ao demônio pelo fato de não estarem alinhados ao monoteísmo judeu

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