DO COMUNISMO À DROGA: O VERDE COMO NOVA ORDEM DE COESÃO SOCIAL

Prof.Dr.HC João Bosco Botelho

 

            Não é necessário ser esperto para concluir que os trezentos bilhões de dólares movimentados, anualmente, pelo narcotráfico não podem ter sido estruturados da noite para o dia.

            A produção de heroína, no Paquistão, em 1986, em torno de 140 toneladas, superoiu largamente as 40 toneladas de 1984. O preço de algumas drogas chega a rivalizar com o do ouro.  O estudo realizado pelo poderoso Departamento de Agricul­tura dos Estados Unidos, em 1984, demonstrou que 35% das exportações colombianas, naquela época, estavam diretamente relacionadas à cocaína. Todavia, o volume de dinheiro gerado pelo narcotráfico não fica restrito às economias do Terceiro Mundo. A venda de co­caína, em Miami, nos EUA, envolve a fortuna próxima do faturamento da Philip Morris, uma das maiores produtores de cigarro do mundo.

           As drogas como a maconha, a cocaína e a heroína constituem problema fundamental das autoridades sanitárias, de maneira semelhante do álcool e cigarro. O controle pretendido pelos autoridades policiais fica difícil porque existem particu­laridades específicas do uso e da comercialização de cada uma delas, ao mudarem continuamente com a aquisição de novas alternativas advin­das dos lucros astronômicos.

            A Corporação Rand, da Califórnia, apresentou relatório ao governo americano, em abril de 1990, evidenciando que apesar do esforço administrativo, não houve ocorreu mudança significativa entre a população que consome as drogas pesadas.

            Enquanto o combate ao traficante é obrigação do Estado moderno por meio do organismo policial competente, o ato noticioso da complexa malha social está inserido no trabalho da imprensa. Entretanto, é necessário unir as forças com os profissionais de saúde para conter o enfoque demoníaco, frequentemente, ligado aos dependentes. Os usuários devem ser entendidos como pessoas que necessitam receber cuidados especiais competentes com o objetivo de romper os elos da dependência química.

            Na atualidade, o mundo está tendo a rara oportunidade de presenciar o movi­mento da coesão social para manter a posse do território. O mal, antes simbolizado pelo comunismo, foi dicotomizado em dois elementos: o lado maléfico ‑ a droga; e o benéfico ‑ o verde.

            É fantástico como os ideólogos do capitalismo não só conse­guiram desmontar o rigor da abordagem política das esquerdas, como também deram aos desiludidos esquerdistas outra opção para continuar falando.

            O rápido processo de busca do elo aglutinador, do comunismo à droga, foi precocemente percebido, em 1989, pelo ditador Fidel Castro. A capi­tal Havana foi coberta de amplos cartazes contendo a bandeira nacional e os dizeres “sabremos lavar ejemplarmente esse ultraje”, contra os oficiais do exército envolvidos com o tráfico de drogas, sumariamente julgados em tribunal militar, condenados à morte e fuzilados.

             Depois que o comunismo deixou de representar perigo aos valores capitalistas, foi identificado o novo inimigo comum ‑ a droga ‑ e o mais forte aliado ‑ o verde. Ao mesmo tempo, em série de declarações sincronizadas, as principais autoridades mundiais deslocaram a atenção para os riscos ecológicos da industrialização. A integridade do verde planetário foi embutida no ideário capitalista.

            A mídia azeitada para readaptar o pensamento coletivo no politicamente correto é muito competente. O jornalismo científico e a arte, sensíveis às mudanças, estão enga­jadas na nova ordem estética. O verde deslocou as ligações incômodas, associadas aos exces­sos do capitalismo, sem mudar absolutamente nada na essência ideológica.

            O Terceiro Mundo débil nas respostas frente às dominações curvou‑se ante a pressão e adere, sem esforço, à nova ordem mundial: a droga substituindo o comunismo e a verde como nova ordem de coesão social.

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