DEFESA IMUNOLÓGICA DO CORPO, ORGANIZAÇÃO SOCIAL E DOENÇAS

Prof. Dr. HC João Bosco Botelho

             Desde os primeiros registros, tanto nos religiosos quanto nos laicos, sabe-se da estreita relação entre saúde e doença com o modo como as sociedades se organizaram. Hoje, basta comparar o tipo de doença nos países industrializados e nos subdesenvolvidos, para a certeza da importância da saúde como indicador social.

            Depois da publicação dos trabalhos do pesquisador Susumi Tonegawa, o ganhador do Nobel da Medicina de 1987, esclarecendo algumas dúvidas de como ocorre a variação dos aminoácidos dos anticorpos produzidos pelos linfócitos B. Tonegawa demonstrou que quando o linfócito B se desenvolve, segmentos do seu material genético são selecionados e misturados para formar novos genes, dando origem a milhões de sequências variadas de aminoácidos, capazes de efetuar com mais competência a defesa do corpo humano contra as agressões micro e macroscópicas vindas do meio ambiente.

            Como consequência imediata dessas pesquisas, é possível afirmar que pelo menos parte da estrutura genética do homem é móvel e capaz de desenvolver durante a vida uma infinidade de combinações gênicas adaptativas. Para que este mecanismo biológico ocorra na sua plenitude, é indispensável que o corpo disponha da mais importante fonte de energia ‑ o alimento.

             Deste modo, se dissolveram como castelo de areia à chuva os pressupostos racistas alimentados pelos interesses dos diferentes matizes ideológicos. Isso significa que as crianças subnutridas dos países pobres não poderão competir, em igualdades de condições, com as dos países industrializados, onde a oferta de alimentos, indispensável para a maturação do genoma, é feita em níveis calóricos adequados.

            A certeza da importância do sociocultural produzindo doença estava presente nos livros sagrados escritos, há milhares de anos, nas culturas que se desenvolveram na Mesopotâmia, Egito e Índia. Naquelas épocas, os legisladores utilizaram os poderes disponíveis e interferiram nos hábitos coletivos das populações, para evitar a doença. Assim conseguiram determinar, ao longo dos séculos que se seguiram, modificações na cadeia epidemiológica de muitas doenças.

             O exemplo de fácil verificação é o câncer do colo uterino, com baixíssima prevalência, entre as judias. A explicação é dada pela cirurgia da fimose feita, obrigatoriamente, nos homens judeus no sétimo dia após o nascimento. Com isto, o prepúcio fica livre e facilita a higienização impedindo que o vírus Epstein‑Baar, relacionado com a etiologia do câncer do colo uterino, e aloje no esmegma (secreção espessa, caseosa, malcheirosa, formada por células epiteliais descamadas, que se encontra, sobretudo, em torno da genitália externa).

            O câncer do pênis é o outro lado da mesma questão, acometendo homens com fimose. Nas regiões do mundo onde a água é escassa, ainda menos para a higiene pessoal, é maior a incidência desse tipo de câncer.

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