O PENSAMENTO GENÉTICO

Quando o abade agostiniano Gregor Mendel (1822-1883) apresentou, no dia 8 de fevereiro de 1865, perante a União dos Naturalistas de Brunn, na Alemanha, o resultado das suas pesquisas do cruzamento de ervilhas, os presentes não entenderam nada. Parece certo que o próprio Mendel também não avaliara que estava mudando o pensamento científico: introduzindo o terceiro corte no conhecimento da Medicina ? o pensamento molecular.
O abade Gregor Mendel, doutor em teologia, estudou matemática, física e ciências naturais em Viena. Sofreu a influência do darwinismo em plena ascensão na Europa e das teorias mecanicistas dos séculos precedentes. Durante quinze anos, pacientemente, no intervalo das suas obrigações litúrgicas, efetuou cruzamentos entre espécies diferentes de ervilhas e anotou os resultados. Só no primeiro ano o cientista selecionou 5.527 sementes de ervilhas. A conclusão que gerou as leis de Mendel, fixou a existência concreta do componente genótipo (caracteres da herança genética) e do fenótipo (a aparência externa do indivíduo).
A conseqüência dos estudos de Mendel ainda esperaria algum tempo para que a busca da materialidade da doença passasse a ser procurada na dimensão molecular, muitíssimo menor do que a da célula (existem milhões de moléculas no interior da célula). As pesquisas para encontrar as causas das doenças pularam da microestrutura (a célula) para dentro da célula (ultramicroscopia): estava aberta o formidável universo para outras explicações da saúde e da doença.
Esse ponto delimitou a nova esperança de melhor entender o paradoxo fundamental da Medicina: em qual dimensão da matéria o normal se transforma em doença?
Para melhor entender a importância da genética mendeliana é necessário reconstruir algumas características do pensamento da segunda metade do século 19. Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publicou “A origem das Espécies”, resultado de vinte anos de observações nas cinco de viagens, a bordo do navio Beagle, quando recolheu o material que utilizou de suporte para a sua teoria. Imediatamente o livro se tornou um sucesso de venda e foi traduzido, nos meses seguintes, em várias línguas.
As propostas teóricas de Mendel e Darwin foram incorporadas à Medicina e proporcionaram que o século 20 persistisse na busca da saúde e da doença em dimensões cada vez menores da matéria viva: na molécula.
Sem dúvida que o terceiro corte epistemológico da Medicina, pensamento molecular iniciado com os estudos de Mendel, marcou a prática médica dominante no século 20, gerando o aparecimento da genética, do genoma, inseminação artificial, tratamento por meio de células tronco e muitas outras mudanças.
Parece claro supor que a melhor compreensão do átomo, nos próximos anos, impulsionará a Medicina do futuro na direção do pensamento atômico, quando as buscas pela materialidade da saúde e da doença serão dominadas pelas mudanças na estrutura do átomo.

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