BUSCA DA DOENÇA NO PENSAMENTO MOLECULAR TERCEIRO CORTE EPISTEMOLÓGICO DA MEDICINA NO GENÔMA

Prof. Dr. HC João Bosco Botelho

Os estudos do frade agostiniano Gregor Mendel (1822-1884), mesmo não sabendo a grandeza da sua descoberta, abriu as portas da dimensão molecular, provocando nova reconstrução da Medicina como especialidade social, voltada ao desvendar da saúde e da doença na dimensão mlecular.

Os hospitais dos países industrializados utilizam, na rotina diária, os resultados trazidos pelo pensamento molecular, acrescentado ao pensamento celular. Com o propósito de diagnosticar ou tratar certa doença, colocando a materialidade da saúde e da doença na dimensão molecular, são analisadas as quantidades e as qualidades de uma ou mais moléculas, entre as centenas de milhares que compõem a célula.

O pouco tempo para a adequada disseminação dos saberes da Medicina-oficial na dimensão molecular, o alto custo e as dificuldades da tecnologia hospitalar de sair da célula para a molécula restringem esse avanço em poucos hospitais e instituições de ensino nos países em desenvolvimento.

Como uma das conseqüências do pensamento molecular, da Medicina-oficial, a clonagem estreitou, geneticamente, a multiplicidade das formas e das funções, criando em laboratório seres idênticos a partir de células retiradas de um indivíduo adulto.

Apesar de assustador, o produto do clone não humano, do mesmo modo como todos os animais nascidos da reprodução sexuada, ao longo do processo de amadurecimento, sofrerá a incisiva influência do social. Desta forma, no momento, não existe perspectiva de eliminar a multiplicidade geradora das respostas do ser vivente frente aos desafios da sobrevivência.

Mesmo sendo teoricamente possível, a clonagem de seres humanos é inconcebível. Não existem na linguagem oral e escrita argumentos para preencher a repulsa contra o alucinado ensaio de eliminar a principal característica do planeta: a multiplicidade.

Com mais liberdade para teorizar, se pode pensar que a busca da materialidade não será interrompida na molécula. Nada nos impede de pensar na possibilidade de avançar na direção do átomo.

Se assim ocorrer, a Medicina-oficial na dimensão atômica, no futuro, acrescentará novas construções complementando dados identificados no pensamento celular e pensamento molecular.

A Medicina como especialidade social, especialmente, a Medicina-oficial por ser a única que sustenta processos teóricos para desvendar a saúde e a doença, em permanente reconstrução por meio dos acréscimos da ciência e tecnologia: os três cortes epistemológicos.:

– Teoria dos Quatro Humores, século 4 a.C., dimensão corporal, primeiro corte epistemológico;

– Micrologia, dimensão celular, século 17, segundo corte epistemológico;

– Ultra-micrologia, dimensão molecular, século 19, terceiro corte epistemológico.

Esse conjunto continua mudando muitos aspectos do antigo determinismo da doença e da morte inevitável. Do mesmo modo, abrindo outros caminhos para desvendar as menores composições da matéria viva contida na muito complexa relação entre moléculas, átomos e partículas subatômicas, certamente, envolvidos nos ainda desconhecidos processos determinantes do aparecimento das doenças.

Parece lógico pressupor, nessa linha teórica, que no futuro, impossível de prever, a Medicina-oficial possa responder, entre outras dúvidas cruéis:

– Como aparece a primeira célula cancerosa?

– Haveria possibilidade de prever o infarto do miocárdio?

– Qual a etiologia das doenças imunomoduladas?

– Onde estão as mudanças na forma, do sistema nervoso central, nas psicoses?

– Porque doenças com o mesmo agente etiológico se manifestam distintamente?

Por essas razões, é certo assegurar que a Medicina como especialidade social é uma realidade, que se mostra em contínua reconstrução, voltada ao controle da dor e empurrar os limites da vida.

 

Esta entrada foi publicada em ARTIGOS. Adicione o link permanente aos seus favoritos.