RELAÇÕES MÉDICO-MÍTICAS (II)

Prof. Dr. HC João Bosco Botelho

O ponto de convergência que moldou o pensamento do homem  foi o aparecimento da consciência do tempo, reveladora da sua impotência frente a inevitabilidade da morte. Em consequência, emgendou um fantástico número de deuses e outros personagens com poderes de curar e ressuscitar. Entre os mais famosos, estão:

1) NINID, descendente da trindade divina babilônica ANU, ENLIL e ENKI;

2) CHRISTINA e BUDA,respectivamente a oitava e sétima encarnação de deus indiano VISCHNU;

3) MITRA, deus redentor da Pérsia;

4) BELENHO dos celtas;

5) ASCLÉPIO, filho de APOLO, da mitologia grega;

6) JOEL dos germanos;

8) FO dos chineses;

9) Personagens deificadas do Velho e do Novo Testamento.

Todos esses sem mencionar as pessoas santificadas pela religião cristã, que operraram milagres nos últimos 1900 anos, quase todos envolvendo poderes mégicos, capazes de modificar a relação saúde \ doença.

Todas essas figuras humanas e míticas  carregavam com elas uma apacidade intrínseca, que não é expplicável racionalmente, capaz de determinar em um tempo-espaço indescritível a  ressuscitação de  determinados mortos e a cura de alguns doentes. As doenças escolhidas foram sempre as que determinavam impacto nas relações sociais. Já foram lera, a loucura, a sífilis, a tuberculose quando a racionalidade dos conhecimentos da medicina não dominava o tratamento adequado. No momento é o câncer e em futuro brve, provavelmente será a AIDS.

nas intrincadas relações que o homem desenvolveu com essas doenças, sempre as fez porque desconhecia  a etiologia e o tratamento. Logo, foi buscar na transcedência a aceitação para o desconhecimento e porque na sua atávica fixação de grandeza biológica é imperativo a compreenção prévia de que tudo que este homem  não pode entender ou resolver, será feito pr personagenm divina antropomórfica, com poder sobre-humano capaz de resolver todas as aflições da sobrevivência humana.

Como foi possível  aos médicos do passado e como é aceito na atualidade essa relação médico-m+itica que está intrincadamente envolvida com a prática médica racional ? Aonde deverá ser fixada a fronteira da medicina como ciência da outra medicina ? A quem interressa levantar e manter este questionamento ?

foram as buscas dessas respostas, algumas vezes angustiantes na sua totalidade, passando necessariamente pela história do próprio homem ligada na temporalidade da existência humana., os responsáveis pelos pequenos avanços que a humanidade fez na busca da razão da vida com a consciência do tempo.

A dificuldade, quase intransponível, de se alcançar mais rapidamente as explicações racionais e desvinculadas do mítico, reside no fato fundamental de que as crenças e as  idéias não são fossilizáveis. Quando a arqueologia escava um túmulo e junto com a paleontologia começa a estudar o esqueleto e os utensílios encontrados, farão importantes conclusões de muitos aspectos releventes que ajudarão a compreender o grupo social do morto, prém a maior parte dos valores e pensamentos dele continuarão  perdidos em mar de conjecturasa. Estas dificuldades são proporcionalmente maiores na medida que recuamos no tempo.

 

A conquista do fogo com a possibilidade de produzí-lo, conservá-lo e transportá-lo, e a consciência do tempo na tomada de posição frente a finitude para alguns aspectos da vida e a aparente eternidade  de outros que se renovam espontaneamente no ciclo interminável da natureza, assinalaram a separação definitiva dos nossos ancestrais dos seus antecessores oológicos. A mais antiga comprovação da utilização do fogo data de 600.000 anos. O uso racional do fogo aliado com a busca pelo conforto  físico contribuíram decisivamente para o aparecimento e conservação do Homo sapiens sapiens.

A imaginável vida depois da morte teve ter acompanhado o homem na sua busca para prolongar ao máximo o seu tempo de vida. Possivelmente esta fantástica busca começou com a idéia religiosa arcaica de que é possível, ao animal, renascer a partir dos ossos. Neste sentido é conhecida e valorizada a citação de EZEQUIAL (37:1-8) no Velho Testamente: ”A máo do Senhor veio sobre mim, e me tirou para fora pelo espírito do Senhor: e ela me tirou no meio de um campo, que estava cheio de ossos. E ela me levou por toda a roda deles. Eram porém muitos em grande número os que  se viam sobre a face do campo, e todos sobremaneira secos. Então me disse o Senhor : Filho do homem, acaso julgas tu que esses ossos possam reviver ? E eu lhe respondi: Senhor Deus, tu o sabes. E ele mi disse: vatici na acerca destes ossos, e dir lhe-as: Ossos secos ouvi a palavra do Senhor. Isto diz o Senhor Deus a etes ossos: Eis aí vou eu a introduzir em vós o espírito e vós vivereis. E porei sobre vós nervos, e farei crescer carnes sobre vós, e sobre vós estenderei pele: e dar-vos-ei o espírito e vós estenderei pele: e dar-vos-ei o espírito e vós vivereis e sabereis que eu sou o Senhor”.

Esta preocupação com os ossos e o conhecimento da decomposição do corpo após a morte influenciaram decisivamente no comportamento do homem em relação ao processo do sepultamento ritualizado.

Os documentos arqueológicos mais antigos e confiáveis desse estudo são as ossadas. O início do sepultamento ritualizado data entre 70.000 e 50.000 anos. Em esqueletos e restos de ossos deste período, foram encontradas a ôcra vermelha (argila colorida pelo óxido de ferro com várias tonalidades pardacentas), que substituiu o ritual do sangue como símbolo da vida, sugerindo a crença, já naquela época, de que a existência de nova vida após a morte era considerada não só pssível , mas alcançável através  de práticas coletivas que envolviam o tipo de sepultamento das pessoas.

Somente a esperança da imortalidade pode justificar a preocupação que acompanha o homem desde a sua origem na ritualização do sepultamento. Esta suposiçaõ pode ser reforçada pela possibilidade do aparecimento dos mortos nos sonhos )nada nos impede de pensar que os nossos ancestrais sonhassem como nós).

Entre os sepultamentos ritualizados, datando emtre 70.000 e 50.000 anos, mais bem estudados, constam:

1) No sítio arqueológico LEMOUSTIER, na França, um esqueleto de adolescente do sexo masculino, girado sobre o seu lado direito como se estivesse dormindo, com o crânio repousando sobre pilha de silex servindo de travesseiro e tendo ao lado  um machado de pedra cuidadosamente esculpido próximo a ários ossos de gado selvagem, sugerindo que foi enterrado com grande quantidade de carne para servir de alimentação na sua nova vida após a morte;

2) Em TESHID TASH, na Ásia Central, a ossada de criança jazia sobre os ossos de uma rena cujos chifres formavam espécie de coroa ao redor da cabeça;

 

3) Na caverna de SHANIDER, no monte Zagros, no Iraque, o esqueleto de um homem adulto sobre uma enorme quantidade de pólen fossilizado de flores de diferentes espécies vegetais. A análise deste pólen mestrou tratar-se de plantas medicinais ainda hoje utilizadas pelos habitantes daquela regiáo para tratamento de diversas doenças. É provável que o homem enterrado tivesse sido o médico-feiticeiro do grupo social e as plantas tivessem sido colocadas no túmulo para que ele continuasse o seu trabalho específico na outra vida após a morte;

4) Na gruta CHAPELLE-AUXSAINTS, na França, foi encontrado o esqueleto do homem adulto acompanhado de vários utensílios de silex com pedaços de ôcra vermelha.

Não pode haver dúvida que a busca da explicação do sentido da vida e da morte sempre acompanhou o homem. A presença de utensílios, que eram enterrados junto com os nossos antepassados distantes, está diretamente relacionada com a crença no renascimento após a morte e não somente isso, mas acompanha a certeza de que o morto continuará a sua principal atividade na nova vida após a morte. A maioria desses corpos foram enterrados voltados para o leste, definindo a intencionalidade de relacionar o pré-nacimento com o curso do sol, símbolo da vida e da interminável renovação da natureza.

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