O homem e a medicina – II

Prof. Dr. HC João Bosco Botelho

 

 

O espaço de tempo, cerca de 40.000 anos, no qual a nossa espécie está vivendo, foi suficiente para a transformação predatória da natureza mas insuficiente para o próprio homem compreendesse que ele é somente uma  espécie biológica como foram todos os seus antepassados que já desapareceram.

Com a Primeira Revolução, a Agropastoril, ocorrida no Neolítico há 10.000 anos, o homem deu início a significativas transformações nas suas relações sócio-econômicas e elaborou lentamente o primeiro processo civilizatório, inicialmente na Mesopotâmica e no Egito, o que foi repetido em outras condições específicas na Índia  (6.000 a.C), na África (3.000 anos a.C) e nas Américas (2.500 anos a.C ).

Ainda hoje é possível encontrar comunidades espalhadas dispersamente em alguns continentes mantendo na sua estrutura social característica desse primeiro processo civilizatório.

De modo semelhante se desenvolveu a ação médica. Existe paralelismo real, comprovável arqueologicamente, entre a Medicina praticada pelas comunidades neolíticas na Europa há 10.000 anos a as das civilizações asteca e inca na América pré-colombiana há pouco mais de 1.000 anos.

As comunidades neolíticas e as anteriores a elas por não possuirem estratificação social definida, tinham na busca pela sobrevivência e na explicação dos fenômenos naturais grande parte da sua atenção. A preocupação pelo conforto físico e em aumentar o tempo de vida deveriam estar entre elas, já que interderiam na segurança pessoal coletiva. Esses fatos teriam provocado a especialização de alguns membros do grupo, que se interessaram por esses problemas concretos.

Nessa fase, quando o homem neolítico ou anterior a ele, começou a aumentar o seu conforto e a tentar modificar as relações dos binômios vida/morte e saúde/doença em si próprio ou em outro membro da comunidade – FEZ-SE MÉDICO.

A Revolução Agro-pastoril significou a passagem do homem primitivo de um sistema caracterizado pela coleta de raízes e frutas, caça e pesca, que durou mais de 500.000 anos, por outro onde se desenvolveu a agricultura e o pastoreio.

Esses processo pode ter tido duas vertentes que confluiram no assentamento definitivo do homem. A primeira, na formação de aldeias agrícolas indefenciadas onde não existia extratificação social e que se desenvolveu em diferentes lugares do planeta e em épocas distintas. Segunda, que culminou com as hordas pastoris nômades das comunidades que se especializaram na criação, utilização e domesticação de diferentes animais, que do acompanharam o homem no seu processo de transformação sócio-econômico.

Outra possibilidade real é que esse processo tenha dado conjuntamente. Na realidade, as comunidades primitivas podem perfeitamente ter se especializado na agricultura e no pastoreio ao mesmo tempo, sem que tenha ocorrido essa diferenciação marcante.

Seja qual for o caminho trilhado pelo homem neolítico no desenvolvimento pela agricultura e do pastoreio, não resta dúvida que foi de fundamental importância no processo que culminou com o aumento demográfico e na formação das aldeias.

A Segunda Revolução, a Urbana, que se seguiu a Revolução Agro-pastoril, se caracterizou pela consolidação do aldeamento e formação de uma população urbana e rural.

É certo que essas aldeias primitivas eram estruturadas em economia de substância e as disputas pessoais ou grupais se realizavam predominantemente em torno das dificuldades da sobrevivência, na obtenção do alimento e na utilização do território.

Com o progresso de algumas comunidades assentadas próximos dos rios e em terras férteis foi possível o conhecimento dos ciclos climáticos e o melhor aproveitamento da terra, levando ao aparecimento excedente de produção. Este fato foi essencial nas relações sócio-econômicas do homem, já que iniciou a passagem de uma economia essencialmente de subsistência para uma economia produtora, fortalecendo o aparecimento da propriedade privada.

A Medicina surgiu em comunidade ágrafas. É certo que o homem muito antes de falar e escrever, comunicou as suas experiências e sentimentos por meio de ações concretas não verbais, gestos isolados, olhares ou como o silêncio. Este conjunto de alternativas da comunicação, que constituiu a linguagem simbólica, continua sendo utilizado, mesmo envolvendo modificações que se mesclaram ao longo da adaptação do homem na Terra durante milhares de anos.

O homem na sua forma atual, o Homo sapiens sapiens, surgiu há, no mínimo, 40.000 anos e é razoável deduzir que já possuia algum tipo de linguagem oral. Questão não resolvida é saber quando ela começou a se formar entre os nossos ancestrais. As pesquisas sobre a formação da linguagem realizada como os nossos parentes mais próximos, os chimpazés, e nos mais distantes, os gorilas, não foram muito, esclarecedoras. É possível que os primeiros cheguem a entender algumas palavras ou mesmo frases, mas a estruturação do pensamento pela linguagem oral ficou aquém da expectativa.

Apesar das parentes semelhanças entre os cérebros dos antropóides e dos homens atuais, existem diferenças no tamanho e no formato que são perfeitamente perceptíveis pela impressão deixada pelo conteúdo da porção interna dos ossos do crânio.

O tamanho do cérebro dos hominídeos que viveram há aproximadamente 2.500.000 anos era, sem dúvida, menor que o do homem moderno. O Homo habitis que viveu há 1.000.000 de anos atrás, tinha o cérebro duas vezes maior que os atuais chimpazés e com o mesmo tamanho do corpo destes. Somente coma evolução que culminou com o Homo erectus, há cerca de 500.000 anos, foi que houve o impulso definitivo do tamanho do cérebro. O atual dimencionamento e função do sistema nervoso central já estavam definidos, provavelmente, nos últimos 100.000 anos.

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