A DOENÇA COMO MAL: TORNANDO VISIVEL O INVISÍVEL

O corpo, visto e sentido como expressão de vida, impulsiona o ser, pensante e finito, a buscar explicação das mudanças nele produzidas interpretando as como antecipação da morte.
Ao chamarmos “paciente” o homem doente, para diferenciá lo do sadio, é inevitável aceitar dupla emoção determinada pelo choque entre o real e o imaginário, causada pela consciência da doença em si mesma. A primeira, realçada pelo visível e relacionada à enfermidade (tumor, mancha, etc.) e a segunda, fruto do exercício mental procurando interpretar a alteração visível no corpo.
A experiência ou a possibilidade de sentir dor, serve como exemplo. O desconforto doloroso é o componente real. A explicação dela, nascida no sofrimento, é profundamente mesclada pelas raízes socioculturais integrantes do imaginário do doente.
O conjunto simbólico, ainda sem explicação neurofisiológica finalizada, trabalha para dar sentido e unir o objetivo ao subjetivo. Essa complexa elaboração cerebral utiliza mecanismos cere¬brais ainda muito pouco conhecidos, capazes de engendrar respostas mentais intimamente relacionadas com o universo mítico do doente. O processo fisiológico determinado pela dor, invisível, acaba consoante à mitopoese (mecanismos socioculturais que criam os mitos).
Entre as muitas respostas para superar o sofrimento, está a organização do MAL formando a objetividade da doença como pre¬cursora da morte. Assim, é viabilizada a resposta fundamental do corpo para entender a doença: o invisível se torna visível!
De maneira semelhante, a saúde é transformada em BEM e colo¬cada em oposição frontal à doença como MAL.
O movimento dialético entre ser e não ser (aqui compreendi¬dos como correspondentes aos binômios saúde e doença, vida e morte) se faz sempre vinculado às forças contrárias (cósmicas, morais e naturais) que se opõem ao ideal do projeto existencial ou da ordem ético social.

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