ORDEM E DESORDEM NAS PRATICAS MEDICAS

Prof.Dr.HC João Bosco Botelho

A   idéia de contribuir para fortalecer a discussão da ordem e da desordem na História da Medicina, enquanto uma especialidade social, no Amazonas, procurando empurrar os limites da vida, na Universidade Federal do Amazonas, nasceu entre os anos de 1984 a 1986, e culminou com a proposta de incluir  a  disciplina  História da Medicina, no currículo do Curso de Medicina.

Naquela oca­sião, eu coordenei o projeto EDEN (Estudo Demográfico e Nosológico), no município de Coari e na periferia urbana de Manaus. Durante o desenvolvimento dos trabalhos de campo, foi consolidada a certeza de que grande parte da Medicina universitária estava muito distante da compreensão de saúde e doença das três mil pessoas entrevistadas.

Com o fundamental apoio dos professores do Departamento de História, em especial, o da professora Vânia Tadros, algum tempo após o término da pesquisa, ocorreram os encontros com o objetivo discutir o programa, a metodologia e a bibliografia da nova disciplina acadêmica.

Em 1988, a História da Medicina foi oferecida, pela primeira vez, com cinqüenta vagas, em caráter optativo e cinco créditos de carga horária. Após a minha aposentadoria, o Prof. Dr. Rodolpho Fagionato, ex-aluno da UFAM, ex-orientando de Mestrado e Doutorado, com valorosa competência, deu seguimento ao projeto pedagógico.

A maior parte das universidades públicas e privadas aderiram ao movimento para oferecer a Disciplina de História da Medicina. Essa construção não e simplória em si mesma, resulta dos novos conhecimentos da genética, em especial, dos trabalhos do pesquisador Susumi Tonegawa, o Nobel da Medicina de 1987, esclarecendo algumas dúvidas de como se dá a variação na ordem dos aminoácidos dos anticorpos produzidos nos linfócitos B.

Tonegawa demonstrou que quando o linfócito B se desenvolve, segmentos do seu material genético são selecionados e misturados para formar novos genes, dando origem a milhões de seqüências variadas de aminoácidos, capazes de efetuar com competência a defesa do corpo humano contra as agressões micro e macroscópica do exterior.

Como conseqüência imediata dessas pesquisas, é possível afirmar que pelo menos parte da estrutura genética do homem é móvel e capaz de desenvolver durante a vida uma infinidade de combinações gênicas adaptadas às necessidades.

Assim, se tornou possível articular uma estreita e sólida ligação entre a herança genética e a vida social. A natureza circundante molda o ser vivente, estabelecendo marcas definitivas no genoma que seriam transmitidas às gerações futuras. Para que este mecanismo biológico ocorra na sua plenitude, é indispensável que o corpo disponha da sua fonte de energia ‑ o alimento.                                                                        Isso significa que as crianças subnutridas dos países pobres não poderão competir, em igualdades de condições, com outras dos países industrializados, onde a oferta de alimentos, indispensável para a maturação dos cromossomos, é feita em níveis calóricos adequados.

Os conceitos positivos da imobilidade da saúde e da doença foram substituídos pela convicção da existência do equilíbrio dinâmico entre ambas. Desse modo, interferir para que os alunos da graduação e pós-graduação possam refletir em torno da importância dos vetores sociais e econômicos gerando doenças contribuirá para a melhor educação médica, demonstrando que as instituições e as pessoas são as responsáveis pelo aparecimento e desaparecimento de novas doenças.

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