NOVAS ABORDAGENS TEÓRICAS DA SAÚDE E DA DOENÇA

Prof. Dr. HC João Bosco Botelho

            Com certa independência da escolaridade formal, porém profundamente marcado pela construção cultural, homens e mulheres sempre souberam que as próprias condições de vida interferiam no curso das doenças.

            Para que os alunos dos cursos de medicina possam reutilizar esse conhecimento sociocultural historicamente acumulado na luta atávica contra a doença e a morte, é imperativo reestruturar o aprendizado do médico. Novas saberes precisam ser consolidadas para possibilitar ao aluno de Medicina situar historicamente os pontos importantes da saúde pública.                        No mundo atual, as instituições públicas e privadas respondem pela aplicação da política de saúde; ao mesmo tempo, são as responsáveis pelo aparecimento de novas modalidades de doenças nas pessoas e nos outros animais. Essa trágica combinação se dá no momento em que permitem a terrível agressão ao meio ambiente causada pela busca irresponsável de novas fontes de matéria prima, alterando de modo irreversível o ecossistema. Já é possível avaliar o que representará à humanidade as destruições que estão em pleno curso.

            Se for acrescentado o uso indiscriminado dos antibióticos, dos aparelhos hospitalares, das cirurgias desnecessárias e as infecções hospitalares, índices de morbidade e mortalidade causadas pelos serviços de saúde, é possível que alguns aspectos da atual prática médica causem mais danos que vantagens ao homem.

            Alguns pesquisadores sociais partem da tese de existir tendência universal para curar e compreender a doença. É aqui que se interligam forte e indissoluvelmente os sistemas cognitivos ‑ o mítico e o empírico ‑ para compor o sistema de respostas processadas por meio do conhecimento historicamente acumulado.

            Os mecanismos que interferem na assimilação social da doença são muitos e complexos. Como a nossa herança cultural está solidamente fincada na memória, é impossível ao médico não conviver diariamente na prática com os mitos que se acoplam na compreensão popular da doença. Deixar de aceitar esta realidade é tão danoso quanto ignorar a pesquisa do laboratório.

            Para que o médico possa se situar nesse novo conjunto das relações, sem perder o enfoque da técnica, atenta à busca da materialidade da doença, é prudente que os dois sistemas cognitivos ‑ mítico e empírico ‑ também sejam discutidos nos cursos de medicina.

            Muitas universidades iniciaram, há mais de cinquenta anos, os estudos das ciências sociais ligadas à medicina. Entre as mais conhecidas estão a Yale e Stanford nos Estados Unidos, Oxford e Cambridge na Inglaterra, Sorbonne na França e a Autônoma de Barcelona.          Entre as primeiras universidades brasileiras a perceberem essa nova necessidade no aprendizado médico, em Manaus, alguns ex-alunos e eu tivemos a honra de ter iniciado esse processo, com a Disciplina Historia da Medicina, em 1982, na Universidade Federal do Amazonas; em  2001, Universidade do Estado do Amazonas e, 2002, na Universidade Nilton Lins.

 

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